ESTANTE LITERÁRIA – EXPLICANDO A CULTURA SULISTA DOS EUA.

Burning House Jim Crow

 

Para milhões de norte-americanos dois eventos caracterizam históricamente o sul do país: a Guerra Civil e o movimento  pela luta pelos direitos civis. Este último vem sendo fustigado há pelo menos 50 anos. Primeiro pela “estratégia sulista” desenvolvida pelo partido republicano na figura de Barry Goldwater na sua campanha para presidente em 1968. Ele havia votado contra as leis dos direitos civis de 1964. Richard Nixon seguiu o mesmo pensamento em campanha presidencial e depois como presidente com os “direitos dos Estados” e “lei e ordem” palavras imbutidas com conotações raciais.

O excelente livro The Bunring House: Jim Crow and the Making of Modern America do professor de Direito e História, Anders Walker, pela universidade de Saint Louis, no Estado de Missouri, explora detalhadamente estes e outros eventos junto com seus legados. Entretanto, o professor nos direciona a um outro assunto muito importante: os intelectuais tanto negros e brancos que nas primeiras décadas do século XX buscavam salvaguardar alguns dos aspectos únicos de suas próprias culturas sulistas do país enquanto lutavam a sua maneira contra a segregação racial.

Segundo Anders Walker, o Sul dos EUA é muito mais do que atos heróicos por parte dos cidadãos afroamericanos e momentos de vergonha por parte dos supremacistas brancos. A região Sul do país serviu também como arena para o debate sobre multiculturalismo. Em princípio pode parecer estranho esta tese já que a luta pelos valores culturais nos EUA teve seu apogeu nos anos 60/70.

Sua tese segue pelo caminho de dois importantes escritores: Zora Neale Hurston e Robert Penn Warren, estes autores assim como outros estavam preocupados com o que acontecia com as duas culturas distintas forjadas sob o manto das leis segregacionistas Jim Crow. Este e outros autores questionavam como ficaria uma possível integração cultural entre negros e brancos. Muitos escritores acreditavam tanto a cultura branca como a cultura negra perderiam suas caracteristicas próprias tornando-se completamente homogenea como em várias partes do país.

E bem verdade que esta suposta homogenização da cultura estava longe de ser uma realidade. Basta ler o trabalho de historiadores como Jon Lauck afirmando que o meio oeste dos EUA tem sua própria herança cultural e literária. Burning House entra num terreno de areia movediça quando o autor cita famosos escritores brancos sulistas como William Falkner, Harper Lee, Flannery O´Connor, entre outros que defendiam uma integração mais gradual entre as duas culturas na região.

Para estes escritores as leis racistas conhecidas como Jim Crow deveriam ser simplesmente reformadas. Os escritores brancos sulistas no geral jamais pregavam por uma revolução para por fim as práticas racistas.

Do lado de autores negros havia também um certo temor a respeito desta integração. Muitos acreditavam que a cultura única afroamericana perderia sua força nesta integração. Nas palavras do escritor James Baldwin, que por sinal não era do Sul, mas sim de Nova York, ninguém em sã consciência desejaria ser integrado a uma “casa em chamas”.

The Burning House faz parte de uma nova safra de criticismo literário sobre o sul contemporâneo. Esta literatura diferentemente de seus precurssores não acredita fielmente no excepcionalismo sulista. Esta nova visão de que a história e cultura local são bastante diferente do resto do país esta sendo contestada. Esta nova literatura tenta entender a região partindo de pontos de vista diferentes.

The Burning House:

Jim Crow and the Making of Modern America

Anders Walker

Editora – Yale

304 páginas – US$30