UNIVERSIDADE HARVARD

Universidade Harvard

MEA CULPA

No começo de 2017 algo inusitado aconteceu na universidade mais prestigiosa dos Estados Unidos, a Universidade Harvard. A presidente desta consagrada instituição de ensino superior começou uma conferência falando sobre os papéis das instituições no país durante o período da escravidão ao lado de uma enorme fotografia simbolizando o passado escravocrata dos EUA. Drew Gilpin Faust começou afirmando a direta cumplicidade da Harvard na instituiçao peculiar.

A conferência que lotou as dependências do teatro universitário contou com pesquisadores de mais de 30 instituições, e teve como principal conferencista o intelectual Ta-Nehisi Coates, autor do aclamado livro “Between The World And Me”.

Um dos pesquisadores e também autor do elogiado livro sobre a escravidão, “University, Court And Slavery”, Alfred L. Brophy, descreveu o que chamou um “mar de mudanças” nas atitudes destas instituições e o reconhecimento que o papel delas foi fundamental em manter o sistema escravagista funcionando.

 

A discussão sobre a conexão histórica entre as principais universidades do país e a escravidão começou há mais de 15 anos com um grupo de estudantes publicando um estudo sobre a celebração seletiva da Harvard no seu passado abolicionista.

Em 2003, a então presidente da Universidade Brown, Ruth J. Simmons, tomou a inusitada iniciativa de rever a relação da universidade que presidia com a instituição da escravidão. Na época, todas as grandes universidades não se manifestaram sobre o assunto.

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A partir de 2005, instituições como a Harvard, Princeton, Georgetown entre outras começaram uma séria investigação sobre o tema pressionados é claro pelos estudantes universitários. Afirmou durante a conferência Craig Steven Wilder, professor do MIT(Massachusetts Institute of Technology), autor de 2 livros sobre as universidades e a escravidão nos EUA. Segundo o professor,  o ativismo dos estudantes tem sido fundamental em pressionar as instituições a reverem seus papéis.

Neste debate uma espinha entalada na garganta de muita gente continua sendo o tema da reparação para os descendentes diretos dos escravos. Segundo Ta-Nehisi Coates, quando o assunto entra em discussão é como se voce estivesse oferecendo sacrifício humano em pleno século XXI.

Outro conferêncista, Adam Rothman, historiador da universidade Georgetown, perguntou a platéia se os descendentes  dos 272 escravos vendidos para manter a universidade funcionando deveriam receber bolsas de estudos para estudantes que frequentassem outras instituições, a vasta maioria presente ergeu a mão concordando com a declaraçao.

A conferência na Universidade Harvard foi patrocinada pelo Instituto de Estudo Avançados Radcliffe depois de protestos de estudantees sobre símbolos racistas no campus da universidade.

Segundo o professor da Harvard, Sven Beckert, a instituição foi literalmente fundada na violência do tráfico de escravos, na travessia do Atlantico(Middle Passsage em inglês), na venda de escravos, e na chibata. Sua pesquisa inciada em 2007 e publicada sem o apoio da universidade atualmente faz parte da página da Harvard na internet.

Alexandra Rahman, uma ex estudante do professor Beckert, foi mais direta explicando que mesmo depois da escravidão ser abolida em Cuba, a universidade mantinha na ilha um centro de pesquisas numa plantação financiada por um senhor de escravos que doava significantemente para a universidade.

“O pensamento era que estudos sobre o papel das universidades durante a escravidão iria manchar nossos portões”, disse o professor Wilder. “Na verdade eles os abriram”, concluiu.