
A dureza do encarceramento desenvolvida para anular qualquer tipo de humanidade entre os prisioneiros não é forte o suficiente para enclausurar o impulso artístico de muitos deles.
Os Estados Unidos tem uma população carcerária aproximando 2.5 milhões de indivíduos. A vasta maioria dela é afroamericana. Desde a época do presidente Ronald Reagan, a prisão perpétua quadruplicou; a idade minínima diminiu para o encarceramento como adulto, e o uso da solitária só tem aumentado.
Marking Time: Art In The Age Of Mass Incarceration a enorme e bastante complexa exposição sendo apresentada no anexo MoMa PS1, parte do Museu de Arte Moderna localizado em LIC, no bairro do Queens, em Nova York, explora a dura realidade dos prisioneiros, mas aborda também o lado artístico de muitos deles desenvolvido sob as duras condições diárias. Esta exposição explora o trabalho de artistas relacionados com as prisões nos Estados Unidos mostrando a centralidade de suas encarcerações em relação a arte e culltura contemporânea.
Apresentando trabalhos feitos por prisioneiros e artistas não encarcerados, mas preocupados com a repressão do Estado, seu total apagamento e a detenção, Marking Time tem como ponto alto o trabalho de mais de 35 artistas, incluindo entre eles a artista norte-america Tameca Cole, Russell Craig, James “YaYa” Hough, Jesse Krimes, Mark Loughney, Gilberto Rivera e Sable Elyse Smith. A exposição foi atualizada para refletir a enorme crise sanitária do COVID-19 nas prisões dos Estados Unidos apresentando trabalhos novos dos artistas desta exposição em resposta a emergência contínua no país.

Geralmente não nos preocupamos com o que acontece do lado de dentro dos muros altos das prisões cercadas de arames farpados e guardas com metralhadoras. Sabemos somente que há um universo onde a punição aplicada aos prisioneiros é escondida para o resto da sociedade. O que realmente acontece nestas priões? Degradação humana, privações, crueldades, mas acontece também arte.
Estes artistas usam não somente suas imaginações, mas também todo tipo de material disponível para criarem suas artes, já que a disponibilidade de material artistico é praticamente nula. Durante seu confinamento numa prisão em Ohio, o artista-prisioneiro, Dean Gillispie construiu peças que adornavam sua mesa com imagens da sua infância morando numa suburbio: miniatura de um posto de gasolina, cinemas, e pequenos restaurantes que faziam parte da paisagem nas estradas. Ele construiu estas miniaturas com palitos de sorvetes, materiais retirados do lixo, pacotes de cigarros e saquinhos de chás, tudo isto colados com alfinetes tirados da área de costura onde cumpria sua sentença de mais de 20 anos. Ele foi um famoso caso de uma pessoa encarcerada erroneamente acusado de estrupro, rapto e assalto até ser solto com a ajuda do Ohio Innocence Project em 2015.
Esta magnífica exposição que fica em cartaz no museu ate o mês de Abril mostra o resultado de trabalhos laboriosos, demorados, e bastante profundos enquanto os artistas-prisioneiros manejam suas penas através de seus trabalhos artisticos. Estes artistas criaram estratégias para visualização e mapeação de seus trabalhos delineando fisicamente o presente, seu impacto, e naturalmente a dimensao de suas vidas sob condições carcerárias análogas em muitas vezes a escravidão.
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