REVISANDO UM CONFLITO RACIAL EM NY DE 1989.

Mural homeageando o jovem Yusuf Hawkins assassinado em Nova York em 1989.

As relações raciais em Nova York sempre foram complicadas. Se por um lado a cidade se vangloria de ser uma cidade altamente diversificada com grupos distintos que fazem dela um poderoso mosaico, é verdade também que as relações entre estes mesmo grupos são bastantes complexas. Dois grupos em particular chamam bastante a atenção: Afro-americanos e Ítalos-americanos. Um caso emblemático envolvendo estas duas comunidades aconteceu em 1989.

Bensonhurst é um subdistrito no bairro do Brooklyn e na época contava com uma população composta majoritariamente por ítalos-americanos de classe media baixa. Este local ganhou bastante notoriedade no país durante o verão de 1989 quando o adolescente negro Yusuf Hawkins juntamente com seus três amigos sairam do subdistrito East New York também em Brooklyn para comprar um carro. Eles foram atacados por uma turba de ignorantes racistas e o adolescente Yusuf foi morto com um tiro.

Na época as relações raciais entre negros e brancos na cidade estavam em franca ebulição. Em Abril do mesmo ano 4 adolescentes negros e 1 latino foram acusados de atacarem e estruprarem uma alta executiva branca no Central Park. O caso galvanizou a cidade com um frenezi na época que Donald Trump comprou um anúncio de página inteira num tablóide pedindo a pena de morte para os adolescentes acusados do crime.

Artigo do jornal Daily News de 1989.

O sóbrio documentário Yusuf Hawkins: Storm Over Brooklyn dirigido por Muta’Ali Muhammad mostra uma Nova York tóxica e a ponto de explodir. Ele mostra um meticuloso levantamento da imagem política da cidade na época.

1989 era também um ano de eleição para a prefeitura da cidade. O prefeito em exercício era Ed Koch. Com a condenação dos 5 adolescentes acusados do estupro, Ed Koch tentava mostrar aos novaiorquinos em geral que sob sua guarda a cidade era dura contra o crime. David N. Dinkins, seu oponente na disputa pela prefeitura, usou a morte do jovem Hawkins para ajudar sua eleição a prefeitura. O que por si só foi uma grande conquista.

De uma maneira bastante sóbria mostrando os acontecimentos, as reações das duas comunidades juntamente com as dos políticos em geral, o documentário mesmo parecendo inflamátorio em alguns instantes, certamente não pode ser usado como uma propaganda para o movimento Black Lives Matter.

As cenas mostrando várias pessoas brancas gritando contra os manifestantes negros protestando contra a morte do adolescente nos leva imediatamente as imagens do sul segregacionista lutando contra a integração do negro na sociedade norte americana.

Revisar como eram as relações raciais especificamente entre negros e brancos em Nova York de 30 anos atrás pode parecer a primeira vista um exercício em futilidade. Porém, a intenção do diretor Muhammad (neto dos atores Ossie Davis e Ruby Dee) não é atiçar o ódio. Sua intenção foi simplesmente mostrar o desperdício de uma juventude promissora e o efeito colateral devastador que afetou famílias e amigos.

Três décadas depois, a mãe de Yousuf Hawkins é o retrato da dor e desolação por causa da morte estúpida do seu jovem filho.