
Com um desconhecimento abismal do que realmente significa o termo marxismo, vários “hombres fuertes” na Ámerica Latina cooptaram o que escreveu o filósofo alemão Karl Marx nos três volumes do seu magnum opus “Das Capital” (O Capital) sobre a relação entre Capital e trabalho e suas mais diferentes ramificações nas sociedades.
Manuel Abimael Guzman Reynoso chamado por milhares de peruanos de presidente Gonzalo era um destes auto declarados lideres. Segundo sua fértil imaginação, ele se auto declarava a quarta espada do marxismo – Marx, Lenin, Mao e agora Gonzalo.
O grupo Sendero Luminoso aterrorizou o Peru durante 15 anos, tendo em Abimael Guzman seu principal lider. Começando em 1978, Guzman, um ex professor de filosofia, chefiou um comitê de três pessoas encarregadas do movimento guerrilheiro maoista, sua ideologia e suas milhares de mortes.
A ideologia seguida por Guzman e seus comandados era uma vez que o movimento guerrilheiro estivesse desestabilizado o Peru colocando-o de joelhos, eles tomariam o poder. Nas palavas do antropologista Carlos Iván Degregori, o Sendero Luminoso com apenas 5 mil combatentes não passava de uma “estrela anã” que brilhou violentamente por quase 15 anos onde quase 70 mil peruanos morreram e depois exauriu-se completamente.
“The Shining Path: Love, Madness e Revolution in the Andes” escrito em mãos duplas por Orin Starn e Miguel La Serna conta um pouco desta história. A jornalista mexicana Alma Guilhermoprieto que na época escrevia sobre o combate guerrilheiro no Peru chamava o grupo de uma aterrorizante gangue.
Apesar de sua inclinação em estudar filosofia, o senhor Abimael Guzman, jamais se preocupou em aprender ao menos uma das a línguas dos povos índigenas como por exemplo o Quechua que é falada por pelo menos 15% do peruanos. A divisão entre brancos (descendentes de espanhóis) e os peruanos indígenas é tão grande que as pessoas geralmente falam de dois Perus – o mais rico e urbano na área Costal e o andeano nas montanhas.

Depois de sua independência da Espanha em 1821 a elite branca e altamente racista peruana chamava parte da composição racial da população de “mancha índia”, a qual eles achavam que era um enorme obstáculo ao progresso e a modernidade. (Qualquer semelhança com a elite branca portuguesa brasileira não é mera coincidência)
Os autores destacam nessa história sobre o Sendero Luminoso como o grupo guerrilheiro reproduzia um fenômeno familiar desde os tempos coloniais – uma elite branca conduzindo uma força de luta escura. A maioria dos mortos e a miséria sobrecaia sempre nas costas dos indígenas peruanos; a poluação com a têz mais escura.
O sangrento terrorismo capitaneado por Abimael Guzman começou a todo vapor no início de 1980. O interessante é notar que nesta época o país tinha sido dirigido até 1977 por um presidente com visões mais socialistas, o general Juan Velarco. O general nacionalizou a companhia de petróleo conseguindo até mesmo fazer uma tímida reforma agrária.
Nas montanhas o Sendero Luminoso passou a queimar as casas daqueles que se opunham as suas teorias marxistas. Além das milhares de mortes, mais de 6 mil pessoas foram forçadas a deixarem suas casas. Diferentemente de outros grupos guerrilheiros na Ámerica Latina, o Sendero Luminoso aterrorizava e matava quem estivesse em seu caminho de uma suposta libertação opressora. Mesmo com atos altamente aterrorizantes as pessoas se “alistavam” para lutar com o grupo.
O Sendero Luminoso atraía seguidores com a ideologia simplista que juntos destruiriam um governo dos mais ricos para construir um governo para os pobres. Os guerrilheiros também prometiam que não haveria mais ladrões nem pais abandonando suas famílias.

Para tentar frear o caminho do grupo guerrilheiro, a polícia militar local usou todas as táticas possíveis e imagináveis, inclusive matando inocentes por mera suspeita de que faziam parte do levante contra o governo federal. A luta entre a polícia e os guerrilheiros acabou sendo apelidada de “guerra suja”.
Quando o presidente Alberto Fujimori assumiu a presidência no início dos anos de 1990, ele prometeu acabar com o grupo terrorista. Sua fúria contra o Sendero Luminoso era uma maneira de desviar a atenção dos sérios problemas econômicos afetando o país no início da década.
Guzman foi preso em 1992 por Vladimiro Montesinas, um ex oficial de inteligência do Exército treinado pela Central de Inteligência Americana, ou CIA. Durante 10 anos usando aquilo que é “mão de ferro”, Fujimori conseguiu dar uma certa estabilidade econômica ao país. Entretanto, o presidente saiu correndo para o Japão depois de ser acusado de corrupção e morte. Muitas delas relacionadas a pessoas inocentes executadas pela polícia.
No final da guerra entre o Sendero Luminoso e o governo federal, um comitê chamado “Verdade e Reconciliação” estimou que dos quase 70 mil mortos, o Sendero Luminoso foi o responsável por 54% do total. A vasta maioria destas mortes foram dos andeanos.
O livro termina com uma citação do escritor francês Albert Camus. “Idéias erradas sempre termina em derramamento de sangue. Mas é sempre o sangue de uma outra pessoa”./NYT
The Shining Path: Love, Madness and Revolution in Andes
Orin Starn e Miguel La Serna
Páginas, 384 – US$28.95
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