ORGULHO NEGRO NA AMÉRICA

Mais de 50 anos atrás, James Brown, considerado o “padrinho” da música “Soul”, cantou para o delírio da comunidade afroamericana a música ” Say It Out Loud: I’m Black and I’m Proud” (Diga Bem Alto: Eu Sou Negro e Tenho Orgulho)

Esta música foi escrita pelo lider da sua banda o saxofonista Alfred Ellis. Ela foi ao ar durante o escaldante verão de 1968. Neste mesmo ano meses antes era assassinado friamente na sacada de um motel em Memphis, no Tennessee, o pastor e ativista Martin Luther King, Jr.

A música foi um estouro nas paradas de sucesso se mantendo no topo durante seis semanas. É verdade que um grupo de talentosos artistas negros assumiram posturas de ativismo durante a tumultuada década dos anos de 1960. Entre essa turma estavam: Curtis Mayfield, Sly and the Family Stone, Sam Cooke, Marvin Gaye, Nina Simone, Aretha Franklin, entre outros. Porém, nenhum outro cantor nesta época conseguiu unir a comunidade afroamericana entorno de uma única música dando um grande sentido de orgulho em ser negro.

Interessante é notar a ironia onde a música mais popular associada com o movimento “Black is Beautiful” foi criada por James Brown.

Capa do famos LP de James Brown

Geralmente falando James Brown não se envolvia em controversia associada aos protestos envolvendo o racismo e a brutalidade policial contra os cidadãos afroamericanos. O cantor apoiou inclusive a reeleição de Richard Nixon em 1972, apoiando e elogiando discaradamente o então governador da Califórnia, o futuro presidente Ronald Reagan. Constantemente o cantor elogiava o senador por Mississippi, Strom Thurmond, um ávido defensor da supremacia branca.

Seu patriotismo relacionado aos Estados Unidos pode ser encontrado em músicas como: “America is my Home” (América é meu Lar). Para seus críticos, ele usava sua própira ascenção através da música para mostrar que isto certamente só poderia acontecer em um único lugar no planeta, na América.

Com sua famosa música “Say it Loud” (Diga bem Alto), James Brown parecia afirmar ao mundo sua negritude e seu orgulho. Ao mesmo tempo ele também alisava seu cabelo afro tirando com isto qualquer rastro da sua textura natural.

Depois de algumas duras críticas de ativistas mais radicais, o cantor resolveu adotar o cabelo afro. Entretanto, essa mudança durou pouco tempo. O alisamento fazia parte da sua persona nos palcos não somente na América, mas ao redor do mundo.

Comparando com outras músicas importantes na luta contra o racismo norte americano, “Say it out Loud” é bastante simplória. Ela é bem diferente de músicas como “Lift Every Voice and Sing”(Levante Toda Voz e Cante) escrita como um poema por James Weldon Johnson, ou a música “What did I Do To Be Black and Blue”? (O Que Eu Fiz Para Estar Tao Triste e Melancólico) escrita por Harry Brooks e Andy Raraf em 1929.

James Brown e Muhammad Ali em 1974/Lynn Goldsmith

Para o propósito de auto identificação nos anos de 1960, os afroamericanos passaram a preferir o termo “Black” ao invés de Negro ou “Colored”(pessoa de cor). A revista “Negro Digest” foi rebatizada como “Mundo Negro”. A semana da história Negra passou a ser o mês da história Negra. Estudantes em todo o país passaram a exigir o estabelecimento de estudos sobre a negritude e sua história na América.

No seu livro final chamado “Where We Go From Here”(Para Onde Vamos daqui), o pastor e ativista Martin Luther King, Jr., também abraçou a causa da negritude. “Um não pode deixar de ver”, ele insistiu, “o valor positivo em clamar o negro a um novo senso de masculinidade ou um profundo senso de orgulho racial para uma audaciosa apreciação de sua hereditariedade”.

“O homem negro deve levantar-se mesmo sob um sistema que ainda o oprime e desenvolver um intocável e majestoso senso do seu próprio valor”

Pouco mais de meio século depois da proclamação de James Brown, continua imperativo afirmar o que deveria ter sido assumido e incontroverso desde o começo: Que negro é lindo e digno de orgulho e cuidado e consideração como qualquer outra etnia no planeta./NYT