MÚSICA JAZZ – HAZEL SCOTT

HAZEL SCOTT  US jazz  musician in 1944

Hazel Scott pianista clássica e de Jazz

Quando o assunto é o gênero musical Jazz, mais precisamente sobre as grande damas da música, geralmente 4 ou 5 nomes vem a nossa mente. Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Dinah Washington e Carmen McCrae. A disputa para ver qual delas é a primeira é sempre bastante acirrada.

Um nome altamente importante e com uma influência tremenda na cena “Jazzistica” entre 1939 e 1950 é a cantora e pianista e porque não dizer ativista Hazel Scott. Entretanto, seu nome é pouco conhecido pelos aficionados contemporâneos do Jazz. Ela era talentosa, bonita, rica e bastante famosa, chegando até mesmo a ter seu próprio programa na televisão 30 anos antes da rainha das tardes na televisão, Oprah Winfrey, monopolizar as tardes por 25 anos com seu programa de entrevistas e auto-ajuda.

Hazel Scott nasceu em 1920 na pequena ilha caribenha de Trinidade & Tobago. Filha de uma pianista clássica e um intelectual, aos 3 anos a pequena Hazel Scott já era bastante conhecida pelos seus vizinhos  e considerada uma menina prodígio por causa dos dotes musicais.

Aos 4 anos a pequena Hazel Scott e sua mãe deixaram a paradisíaca ilha e mudaram-se para Nova York, mais especificamente para o bairro do Harlem famoso por acomodar os grandes intelectuais negros da época, como por exemplo o poeta Langston Hughes. Quando completou 8 anos Hazel Scott foi levada pela sua mãe para uma audição na prestigiosa escola de música Julliard. A idade mínima para ser aceita na escola era 16 anos. Porém, um professor ficou tão impressionado com o talento da menina que resolveu registrá-la assim mesmo como sua estudante privada chamando-a de gênia.

Durante o período da grande depressão nos EUA no final dos anos de 1920  e com dinheiro curto, sua mãe formou sua própria banda feminina de Jazz e em várias apresentações a pequena Hazel estava firme  e forte tocando o piano colaborando com a banda. Porém, o grande sonho de sua mãe era que sua filha fosse uma pianista clássica. Para sua tristeza Hazel Scott já estava envolvida demais com a banda da sua mãe e suas músicas que o próximo passo era tornar-se uma pianista de Jazz. E foi exatamente isto que ocorreu.

Ebony Hazel Scott

Hazel Scott na capa da famosa revista EBONY

 

Ainda no ensino médio Hazel Scott debutou no lendário clube Roseland de Nova York apresentando-se logo após o gigante do Jazz Countie Basie. Sua estréia foi um tremendo sucesso. Seu talento era tão grande que foi convidada a ter um programa musical na rádio W.O.R de Nova York, onde ela preferia tocar somente músicas clássicas. Entretanto, foi trabalhando num Yate na ilha de Manhattan em Nova York cobrindo os intervalos dos números musicais que ela inventou seu  próprio estilo “Jazzistico” tocando música clássica. Este estilo ficou sendo conhecido como Hazel Scott.

Em 1939 com apenas 19 anos surgiu sua grande oportunidade. Foi convidada para trabalhar no Café Society, o primeiro Café totalmente integrado dos EUA. Esta oportunidade foi dada graças a Billie Holiday que cancelou parte de de sua temportada no Café e indicou a jovem Hazel Scoll para substituí-la. A escolha não poderia ter sido melhor. Um ano depois gravou seu primeiro LP chamado “Hazel Scott Swinging the Classics”. Seu primero trabalho foi bastante elogiado pela crítica e pelo público em geral.

Por causa do seu tremendo sucesso Hazel Scott começou a chamar a atenção de pessoas famosas, entre elas estavam: Duke Ellington, Eleanor Roosevelt(primeira dama), Frank Sinatra e Paul Robeson, entre outros. Seu sucesso foi tão estrondoso que  suas mãos foram seguradas pela famosa casa britânica Lloyd.

A primeira cláusula em seus contratos de apresentações era que jamais se apresentaria para um público segregado. Se por ventura chegasse  para se apresentar e notasse que a casa era segregada, ela simplesmente virava as costas e saia sem pestanejar.

Hazel Scott participou de varios filmes. Sempre a mesma personagem, ou seja, Hazel Scott. Porém, ela enfrentou a fúria de Hollywood quando se recusou a fazer um número musical para um fillme onde as mulheres negras dançavam ao lado dos soldados antes destes irem para a Guerra  usando um avental como se fossem domésticas. Um número musical altamente esteriotipado para não dizer abertamente racista. Depois de um empasse de 3 dias o diretor do filme cedeu a sua demanda e o número foi gravado com as mulheres usando vestidos florais. Essa “insubordinação” levou o chefão do Estúdio Columbia, Harry Cohen, a boicotá-la dizendo que enquanto ele estivesse vivo, Hazel Scott jamais faria outro filme em Hollywood.

Em 1946 casou-se com  Adam Clayton Powell, um congressita famoso representando o bairro do Harlem em Washington. O casamento foi celebrado em revistas, jornais, radios e televisão. A fama do casal atingiu níveis de agitação altíssimos no país. Poderíamos comparar com o casamento entre o rapper Jay-z e a cantora Beyoncé.

Hazel Scott and Adam Clayton Powell and son

Adam Clayton Powell, Hazel Scott e o filho Jr.

 

Em 1950 no auge do fantasma do comunismo nos EUA, um jornaleco chamado “Red Channels”(Canais Vermelho) publicou uma lista de mais de 100 pessoas da indústria do entreterimento suspeitos de serem subversivos(comunistas). A pianista Hazel Scott estava nesta lista. No seu testemunho negou veementemente que era comunista inclusive questinando a moralidade e legalidade da ação contra ela.

Este testemunho custou caro a talentosa pianista que de repente não era mais procurada. Seus shows ficaram escassos. Tudo isto pesou no seu casamento. O casal acabou separando em 1960. Um pouco antes da separação em definitivo ela mudou-se para Paris com seu filho único. A cidade das luzes a recebeu de braços abertos. Ela gravou material novo e fez apresentações ao redor do planeta. Praticamente criando uma nova vida para ela e o filho. Seu apartamento em Paris virou ponto de encontro de expatriados.

Em 1963 ao lado do grande escritor James Baldwin, Hazel Scott protestou contra a segregação racial nos Estados Unidos em frente a embaixada em Paris apoiando a famosa marcha a Washington organizada pelo reverendo Martin Luther King, Jr.

Ao retornar aos EUA em 1967 a cena musical estava completamente mudada. O rock era o grande gênero musical do momento e não havia mais espaço para o Jazz tradicional. Hazel Scott não era “cool”(legal – trad. livre) como Miles Davis ou John Coltrane. Suas músicas já não eram mais ouvidas nas rádios.

Eventualmente mudou-se para NYC para ficar mais perto do filho e sua família. Ocasionalmente fazia algum show mostrando todo seu talento e finesse. Em 1981 Hazel Scott sucumbiu ao cancer com apenas 61 anos de idade.