ESTANTE LITERÁRIA – REVOLUÇÃO CULTURAL CHINESA

Red-Color News Soldier

O fotografo chinês Li Zhensheng, de 78 anos de idade, tem uma missão. Esta missão é mostrar ao maior número possível de compatriotas o que realmente foi a Revolução Cultural na China durante parte das décadas dos anos 1960 e dos anos de 1970.

“O mundo inteiro sabe o que aconteceu durante a Revolução Cultural”, disse o senhor Li. “Sómente a China não sabe. Muita gente não tem idéia”. Seu livro de fotografias “Red-Color News Soldier” (Cor-Vermelha Soldados da Notícia), está ganhando sua primeira versão em chinês. O livro foi publicado pela universidade de Hong Kong.

Misturando história e memória, “Red-Color News Soldier”, mostra fotografias tiradas pelo senhor Li quando ele era ainda um jovem jornalista empregado por um jornal local no nordeste do país. Estas fotos já foram mostradas em mais de 60 países. A Revolução Cultural chinesa foi um marco no país. Ela colocou estudantes contra professores, pais contra filhos e por último amigos contra amigos.

Red-Color News Soldier

Com este livro o senhor Li junta-se a um pequeno grupo de dissidentes chineses tentando mostrar os excessos do ditador Mao Zedong e ao mesmo tempo desafiar a narrativa atual do presidente Xi Jinping que tem como finalidade apagar o traumático passado.

Assim como a discussão sobre o que representa a Democracia Racial brasileira e o que realmente foi a escravidão, na China a discussao sobre a Revolução Cultural acabou virando um enorme tabu. Representantes do partido oficial chinês tem sistematicamente bloqueado o lançamento do livro na China.

A nova edição do livro só pode ser distribuida no Estado semi autonômo de Hong Kong. Entretanto, a esperança do senhor Li é que o livro chegue ao maior número de pessoas na China. “Levaremos os livros para o Continente um por um”, disse o senhor Li. “Será como formigas movendo uma casa.”

Red-Color News Soldier - The Photographs of Li Zhensheng

Depois que Mao Zedong desencadeou a Revolução Cultural, o que começou como uma campanha política direcionada a retomada do poder no topo, logo tornou-se um grande movimento nacional que abalou todo os níveis da sociedade chinesa. Grupos rivais de jovens militantes conhecidos como “Guardas Vermelhos” lutaram uns contra outros e contra a considerada “classe de inimigos”, incluindo intelectuais e funcionários do governo entre outros.

De acordo com historiadores mais de 1.5 milhão morreram, milhões foram perseguidos e centenas foram conduzidos ao suicídio.

A coleção de fotografias da época do senhor Li é um retrato sutíl tanto da paixão como da dor que o movimento gerou.  Hoje mais de 50 anos depois há pouca discussão sobre o período na China. O que alguns chamam de aminésia coletiva piorou nos últimos anos porque os lideres tomaram medidas que impedem o entendimento da história moderna.

Red-Color News Soldier

O senhor Li que ja foi agraciado com um museu em sua homenagem na pequena província de Sichan possui um outro acervo importante de fotografias tiradas no período dos protestos ocorridos na praça Tiananmen em 1989.

Ao ser perguntado sobre a possibilidade de um novo livro de fotografias sobre aquele evento, ele foi bastante melancólico na sua resposta. “Não vamos falar sobre o livro de Tianamen. Uma história de cada vez”./NYT