O saxofonista J. D. Allen se considera um afroamericano sortudo. Aos 46 anos está em plena forma musical para o delírio dos seus inúmeros fãns. Recentemente ele foi matéria bastante elogiosa no caderno cultural do periódico The New York Times.
J. D. Allen nasceu na cidade de Detroit em 1972. Segundo suas próprias palavras, ele é fruto de um relacionamento altamente explosivo entre sua mãe e seu pai. Segundo ainda nos informa em entrevista para o periódico, seu pai era bastante abusivo fisicamente, inclusive servindo pena na prisão por causa de um assalto a banco. Tudo isto foi testemunhado pelo pré adolescente de apenas 12 anos de idade.
Por causa do clima tenso entre ele, sua mãe e o namorado dela, o jovem foi despachado para casa dos avós. De acordo com ele, isto acabou sendo uma virada positiva na sua vida. Nesta mesma época foi aceito numa importante escola de ensino médio. “Se não tivesse sido encorajado a pegar num saxofone”, disse Allen, “ao invés poderia ter sido um revólver”.
Sua grande oportunidade como saxofonista aconteceu no início dos anos 90 quando a grande vocalista de Jazz Betty Carter o contratou, mas ele acabou vagando dentro e fora de Nova York durante vários anos consumindo bebidas e depois drogas pesadas. Foi somente a partir de 2006 quando finalmente conseguiu formar seu próprio trio que as coisas tomaram um rumo diferente.
Com mais de 10 álbuns de Jazz sob o seu comando, J. D. Allen aproveitou a entrevista para falar um pouco do seu mais novo trabalho profissional, o álbum “Barracoon”. O nome foi tirado do livro final com o mesmo nome da escritora Zora Neale Hurston. O livro dado como perdido. Ele foi escrito no final dos anos de 1920s e conta a história oral de Kossula (também conhecido como Cujdo Lewis) que estava entre as últimas pessoas sobreviventes na travessia forçada no Atlântico antes que o tráfico de escravos fosse abolido nos Estado Unidos.
Faz bastante sentido que o saxofonista lançasse seu álbum celebrando a vida de Kossula, particularmente no aniversário de 400 anos da chegada do primeiro tumbeiro forrado de africanos escravizados na terras da América inglêsa. O senhor J. D. Allen ainda sente a necessidade de afirmar seu direito não somente de existir, mas de ser reconhecido.
“E por que isto é importante para mim? Porque quando eu não tocava, eu nao existia,” disse ele. “Até hoje posso caminhar entre pessoas que conheço há anos e se eles não me veem com o saxofone, eles não sabem quem eu sou.”
Últimamente seu grande desejo e deixar sua marca no planeta. É contar sua história através da música. “Quero apenas dizer que existo, cara,” ele eventualmente disse. “Estive aqui. Este é o J. D. Allen, esteve aqui na parede. Isto é o que todos estes álbuns são.”/NYT