UNIVERSIDADES E A ESCRAVIDÃO NA AMÉRICA.

renty and delia

Renty e Delia fotografia comissionada pela universidade Harvard.

Para comprovar a inferioridade das pessoas negras escravizadas nos Estados Unidos, pai e filha foram fotografados sem roupas da cintura para cima. A fotos foram requisitadas por um professor da universidade Harvard como parte de um estudo racista para comprovar a superioridade da raça branca. Cento e setenta anos depois os nomes dos fotografados foram identificados como sendo Renty e Delia. Ambos eram escravos numa plantação na Carolina do Sul.

A fotos fazem parte do acervo da universidade e estão sendo contestadas como sendo parte da família Lanier descendentes direto de Renty e Delia. Recentemente Tamara Lanier entrou com um processo contra a Harvard afirmando que ela era descendente direta dos dois fotografados. Por causa disto as fotos são suas por direito.

Este caso em particular reacendeu o debate não somente sobre a reparação aos descendentes de escravos, mas o papel da mais famosa e mais antiga universidade do país durante a escravidão.

” É sem precendente em termos de teoria legal reividicar propriedade que foi erroneamente confiscada”, disse Benjamim Crump, um dos advogados de Tamara Lenier. “Os descendentes de Renty podem ser os primeiros descendentes de escravos que podem conseguir seus direitos proprietários”.

Tanto a universidade Harvard como a universidade de Georgetown, duas das mais renomadas univerdades no país, buscam maneiras de atenuar seus respectivos papéis durante o período da escravidão.

A faculdade de Direito da Harvard aboliu um escudo de 80 anos ligado ao distintivo de uma família escravocrata que ajudou a financiar a Harvard. Enquanto isso, a universidade de Georgetown, dá uma vantagem na admissão aos alunos descendentes direto dos escravos vendidos para financiar a universidade.

Segundo reportagem feita no começo de 2019 pelo periódico The New York Times, uma batalha legal está em curso quanto a propriedade das fotos.

Estas fotos lógicamente foram tiradas sem o consentimento dos fotografados. As fotos foram comissionadas por Louis Agassiz, o zoologista sueco-americano e professor da Harvard. Estas fotos foram tiradas em 1850.

Conferencia na universidade Harvard

Conferência na universidade Harvard sobre reparação.

Rival do naturalista britânico, Charles Darwin, Agassiz acreditava na teoria poligenia, a teoria de que negros e brancos tem origem distintas.  Desacreditada posteriormente, esta teoria pregava a idéia racista de que as pessoas negras eram inferiores as pessoas brancas.

Em 2017 numa conferência na Harvard sobre a conexão entre a acadêmia e a escravidão, Tamara Lenier e sua filha Shonrael ficaram chocadas com a enorme imagem profetada enquanto os conferencistas debatiam o tema. Um dos panelistas era o autor e ativista Ta-Nehisi Coates, autor de um longo artigo sobre a reparação nos EUA. Ele é simpatético com a causa da família Lanier. “Aquela foto é como uma foto-refem”, disse Ta-Nehisi sobre a imagem de Renty. “Este é um homem negro escravizado sem escolha, forçado a participar de uma propaganda branca – para isto foi tirada esta foto”.

Molly Rogers, autora do livro “Delia’s Tears” (Lágrimas de Delia), sobre as imagens, disse que traçar a família escravizada é uma tarefa complicada. “Não é necessariamente feita por sangue”, ela disse. “Pode ser pelas pessoas que se responsabilizam umas pelas outras. A relação familiar é bastante complicada por causa da escravidão”.

Yxta Maya Murray, professora de Direito na faculdade Loyola em Los Angeles, na Califórnia, disse que as imagens tiradas a força são equivalentes a roubo. “Se Tamara Lenier é descendente, então eu fico ao seu lado”.

Tamara Lenier quer levar seu caso a corte pedindo uma reparação punitiva e danos emocionais. Ela disse que não sabe o que irá fazer caso consiga reaver as antigas fotografias. Ela disse ainda que terá uma reunião com sua família sobre o assunto. Ela não descarta a possibilidadade de licensiar as imagens de seus ancestrais./NYT

PS: O processo relacionado as fotografias diz que as fotos são os ganhos de um roubo poque os escravos Renty e Delia não poderiam consentir. O processo diz ainda que a universidade está ilegalmente lucrando com as imagens usando-as para propósitos de propaganda e comercial. A universidade usa a imagem de Renty na capa de um livro de antropologia que custa US$40.00