A ILUMINADA MARIELLE FRANCO

M. Franco Presente

Vereadora Marielle Franco assassinada no Rio de Janeiro no dia 14/3/2018.

Desde que a vereadora e ativista Marielle Franco foi exterminada há mais de 8  meses no Rio de Janeiro, dezenas de artigos já foram publicados dentro e fora do Brasil por jornalistas, blogueiros, amigos, e também inimigos.

Depois da enxurrada de notícias falsas (fake news) sobre Marielle, disseminadas principalmente pelas plataformas facebbook e whatsup, a poderosa e sempre unipresente Rede Globo de Televisão e o semanário Veja, o mais conhecido no Brasil, dedicaram amplo espaço em suas respectivas mídias para tentar explicar quem era Marielle Franco, quem ela realmente representava, e porque foi brutalmente assassinada.

Porém, mesmo depois de ampla cobertura tanto pela mída nacional quanto pela mídia internacional, o estrago sobre sua ética e seus valores morais já estavam sedimentados na psiquê daqueles que a julgavam como uma simples favelada que mereceu o que aconteceu porque ela estava envolvida com traficantes.

Há pouco mais de 10 dias, o Secretário de Segurança no Rio de Janeiro, Richard Nunes, em entrevista ao periódico de São Paulo, O Estadão, admitiu que o Estado brasileiro sabia de um plano para assassinar a vereadora desde de 2017. Ele afirmou ainda na mesma entrevista, que ela foi assassinada por milicianos envolvidos em grilhagens de terrar nas periferias do Rio de Janeiro porque estavam com medo de uma suposta intervenção da vereadora em seus “negócios”.

M F na Mare

Marielle Franco dentro da comunidade da Maré

Esta postura do Secretário contradiz com tudo que tem sido publicado sobre a vereadora. Em momento algum nas suas falas como vereadora ou como ativista da comunidade onde foi criada, ela dizia que o grande problema que os cariocas das periferias enfrentavam era o da grilhagem de terras. Seu foco principal de ação era trazer um pouco mais de dignidade a população mais carente das comunidades.

Marielle Franco estava bastante preocupada com a precariedade dos serviços sociais oferecidos pelo Estado do Rio de Janeiro a esta mesma população. Ela estava preocupada também com a brutalidade da polícia, o racismo latente e manifesto, e os esteriótipos negativos enfrentados por moradores das comunidades em geral.

Além do mais, Marielle estava ciente e denunciava enfaticamente o genocídio em curso contra jovens negros dentro  das comunidades cariocas nas mãos da policia, da milícia, e também dos traficantes locais. Ela estava ciente do legado da escravidão na formação da sociedade brasileira. Marielle sabia que o legado escravocrata era a sine qua non responsável pelo terceiro mundismo encontrado nas periferias e comunidades pelo Brasil afora.

Oito meses depois do seu brutal assassinato, o Estado brasileior ainda nao conseguiu desvendar este crime de repercussão mundial.

O país que gosta de se gabar de ser uma das grandes economias do planeta, um país onde a democracia e o estado de direito é reconhecido pela vasta maioria dos brasileiros, um país que se gaba por sua diversidade étnico-racial, por sua alegria, e também por sua suposta democracia racial, não conseguiu ainda desvendar este grande mistério.

Marielle Franco representava mais mais do que um simples políltico. Ela era o futuro que muita gente no país busca como uma alternativa para os políticos profissionais que infelizmente não tem mais nada a adicionar no debate nacional sobre qual o caminho o Brasil precisa seguir para combater todos os tipos de mazelas e desigualdades neste início do século XXI.

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Uma forte luz de esperança se foi com a morte de Marielle Franco.

A vereadora era uma esperança para os mais céticos, mas princpalmente para os moradores das comunidades que só recebem visitas de políticos durante campanha eleitoral. Saída de um local desconhecido e bastante ignorado tanto pelo governo federal, estadual e municipal, a ativista certamente peitou de frente o status quo político no Rio de Janeiro. Por causa da sua ousadia pagou com a própria morte.

Marielle Franco trazia consigo a força de uma mulher negra, mãe, lésbica, mas acima de tudo, trazia a força dos seus ancestrais que aportaram na sua cidade natal acorrentados e jamais desistiram de lutar por suas sobrevivências.

Marielle Franco fazia parte de uma nova geração de pensadores fora do lugar comum de achar que “bandido” bom é “bandido” morto. Ela sabia que o meio ambiente onde uma pessoa é socializada é o fator principal no desenvolvimento da cidadania plena. Ela não acreditava na falácia de que uma pessoa para se desenvolver, ter sucesso econômico e profissional, basta simplesmente querer. Marielle estava ciente das forças sociológicas que dividem o país entre os cidadãos e os cidadãos de segunda classe.

Marielle via com muita desconfiança a meritocracia brasileira. Assim como os ativistas Malcolm X, Martin Luther King, Jr., Steve Biko e centenas de outros mais, ela lutava contra um Estado opressor e violento. Infelizmente Marielle Franco foi ceifada de sua vida quando estava a caminho de alçar ao estrelato político no Brasil.

De todos os acontecimento que marcaram o Brasil este ano de 2018, e entre eles poderámos citar: a prisão do ex presidente Luis Ignácio Lula da Siva, o incêndio no museu Naciona do Rio de Janeiro, e a eleição de Jair Bolsonaro para presidente. Entretanto, nada disso foi mais relevante do que a morte de uma pessoa iluminada como Marielle Franco.

Quem perdeu com sua morte não foi somente os familiares, amigos, a comunidade onde morava, sua esposa/companheira, foi o Brasil como um todo. Com sua morte apagou-se uma luz forte que poderia sem dúvida alguma ajudar a tirar o país do marasmo de idéias e lugar comum em que se encontra atualmente.