Em 1966 os EUA estavam completamente atolados na desastrosa guerra do Vietnã. Não havia por parte do governo federal nenhuma estratégia realista para uma saída honrosa deste pesadelo militar. No lado doméstico, centros urbanos como Oakland, Detroit, Chicago, Washington, Nova York e Newark, continuavam altamente divididos em linhas raciais.
Um ano antes, para o desespero dos jovens negros vivendo nos guetos urbanos das grandes cidades, o carismático ativista Malcolm X tinha sido assassinado numa tarde fria de Fevereiro em Nova York por divergir ideologicamente do seu mentor Elijah Muhammad; e por criticá-lo duramente por causa de seus affairs com várias secretárias da organizacao Black Muslim. A retórica separatista de Malcolm X há anos tinha ficado para trás, porém, muita gente ainda acreditava que o ativista continuava a mesma pessoa radical de dez anos antes quando deixou a prisão.
Do outro lado, a ideologia pacifista e de integração do reverando Martin Luther King, Jr. não era aceita por uma nova geração que buscava seus direitos porque estes continuavam sendo ignorados pelo país mesmo após a ratificação das leis pelos direitos civis assinada por Lyndon B. Johnson.
Foi justamente nesse clima tempestuoso nacionalmente que um novo movimento urbano surgiu nos Estados Unidos. No verão de 1966, Stokley Carmichael e Willie Ricks, dois jovens lideres da SNCC(Student Nonviolent Coordinating Committee em inglês), começaram a distanciarem-se da ideologia da não violência e começaram a usar a terminologia Black Power(Poder Negro) nos seus discursos radicais.
Neste mesmo ano era fundado por Huey Newton e Bobby Seale na cidade de Oakland, na Califórnia, o partido Black Panther Pary(Partido Pantera Negra) para a auto defesa dos cidadãos negros.
Dois importantes livros foram publicados em 2016 para celebrar os 50 anos da fundação do partido. O primeiro e Black Power 50 editado por Sylvane A. Diouf e Komozi Woodward e o segundo Black Panthers: Portraits from Unfinished Revolution editado por Bryan Shih e Yohuru Williams mostram de ângulos diferentes o que foi a a luta pelos direitos civis travada por jovens céticos e desconfiados do establishment.
“Black Power 50” se dedica a figuras chaves bem como aos principais eventos principalmente nos anos 60 e 70. O leitor/a terminará o livro com um conhecimento profundo sobre os personagens importantes da época como por exemplo: Bobby Seale, Eldridge and Klathleen Cleaver, James Baldwin e Angela Davis, entre outros.
Neste livro há capítulos falando sobre ativismo nas penitenciárias bem como “Educação para Libertação”, além de artes visuais, música, moda e a estética do que significa mostrar que o negro é lindo tanto nos textos como nas imagens.
Um dos grande achados do livro “Black Power 50” é mostrar como o movimento pelos direitos civis nos EUA influenciou jovens negros ao redor do mundo. No Caso do Brasil, foi com um atraso de pelos menos 10 anos. A influência na população negra foi muito mais na area estética e cultural do que política.
O simbolismo do “Black is Beautiful”( O Negro é Lindo) explodiu nas periferias do Brasil com a explosão dos bailes blacks e com grupos musicais como a banda Black Rio.
Já o livro “Black Panthers: Portraits from an Unfinished Revolution” conta a história daquelas pessoas que estavam ligadas ao movimento, mas naão eram as “estrelas”. Ou seja, cidadãos comuns com seus trabalhos e afazeres domésticos diários.
A discussão a respeito do partido Pantera Negras sempre teve como foco os personagens mais famosos e com isto mais visíveis dentro do movimento. O que é de esquecimento de muita gente é que o movimento tinha um apoio nacional. O partido precisa atrair trabalhadores e donas de casa que acreditassem em algo e estariam dispostos a trabalharem por isto.
Para muita gente participar do partido dos Panteras Negra tinha a mesma dinâmica de participar de uma igreja Batista. Fosse como pastor, ou simplesmente um membro associado. Certamente não era parte do seu trabalho diário, mas era uma parte importante na sua vida social.
Phyllis Jackson se lembra bem do período. Ela era secretária de Comunicação do partido. “Nao temos que ser heróis quando nos associamos”, ela disse, descrevendo a vida das pessoas não famosas mostradas no livro. “Voce se torna um herói através da prática”.
Sob angulos distintos, este dois importantes livros se complementam. Na era do movimento “Black Lives Matters” poderíamos afirmar que tanto “Black Power 50” e “The Black Panthers” são os precurssores de uma luta contínua.
Black Power 50
Editado – Sylviane A. Diouf/Komozi Woodward
Editora – The New Press
Páginas, 144 – $24.95
The Black Panthers: Portraits From An Unfinished Revolution
Editado – Bryan Shih/Yohuru Williams
Editora – Nation Books
Paginas, 272 – $24.99
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