MARIELLE FRANCO (1979-2018)

marielle franco

UM IMPORTANTE FACHO DE LUZ FOI EXTINGUIDO NO INÍCIO DE UM BRILHO PROMISSOR.

“Conheçam o novo mito da esquerda, Marielle Franco. Engravidou aos 16 anos. Esposa de Marquinhos VP, usuaria de maconha, defensora da facção rival e eleita pelo Comando Vermelho, exonerou recentemente seis funcionários, mas quem matou foi a PM”. Postado no facebook por Alberto Fraga.

Após a morte da socióloga, ativista, e vereadora, Marielle Franco, e seu motorista, Anderson Gomes, a internet no Brasil tranformou-se num enorme pinico com pessoas defecando ad nauseaum informações totalmente infundadas e mentirosas sobre Marielle, e o que ela realmente representava para sua comunidade. (Nos EUA as coisas não são assim tão diferentes)

Nas tóxicas e altamente racistas postagens, as pessoas questionavam sua integridade moral. Perguntavam quem era a vereadora; o que realmente de concreto havia feito; e por último que sua morte era tão comum como qualquer outra que acontece diáriamente no Brasil. Portanto, ela não mereceria o destaque nacional e internacional que recebeu, nem a comoção que causou.

Estas atitudes e pensamentos expõem a verdadeira faceta  hipócrita da sociedade brasileira. Uma sociedade bastante conservadora e que ainda acredita em mitos que continuam sendo desbancados por estudos após estudos. Como por exemplo o da democracia racial. O da tolerância religiosa. O de que o passado colonial brasileiro não tem relevância alguma no Brasil contemporânio. O de que pessoas morando nas favelas são traficantes e ou párias na sociedade. E por último, que o Brasil é altamente tolerante com relação as preferências sexuais de pessoas adultas. Foi esta mentalidade que “invadiu” as redes sociais horas depois da morte da ativista.

Marielle Franco cresceu na favela da Maré. Um quarto da população no Rio de Janeiro mora em favelas. O local que poderíamos perfeitamente fazer um paralelo com uma reserva indígena.

O local onde os serviços públicos como moradia descente, infraestrutura e saneamento, segurança, e centros de lazeres e culturais são praticamente inexistentes. O local “ocupado” por gangues de traficantes que deve ser evitado, mas que ocasionalmente deve ser invadido por policiais ou pelo Exército que nao se importam com quem morra nos tiroteios. O local que as autoridades políticas pouco se importam e raramente visitam. É neste mesmo local que corpos negros são encontrados quase que diáriamente por causa da violência endêmica no país.

Marielle Franco era fruto de uma socialização da favela onde a mulher negra na maiorias das vezes é condicionada mentalmente a um papel de subalternidade, inferioridade, e invisibilidade. Tudo imposto pela cultura branca dominante. No seu caso estas amarras mentais foram sendo rompidas a medida que seu intelecto foi sendo aguçado.

Seu ativismo foi despertado depois que uma amiga foi morta atingida por uma bala perdida num tiroteio na comunidade entre a polícia e traficantes.

Nesta mesma época Marielle começou a frequentar o curso preparatório da ONG CEASM (Centro de Estudos e Ações Solidária da Maré) para prestar o vestibular.

mass demostration for Mariella

A partir do momento que começou a frequentar a Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) no início dos anos 2000, Marielle passou a perceber nitidamente o enorme atoleiro social que se encontram os moradores das mais de 1000 favelas no Rio de Janeiro. Com toda certeza sabia que o Brasil lutava ferozmente para esconder essa nódoa. Legado dos séculos de escravidão no país. As favelas cariocas nada mais são do que os efeitos colaterias da nossa formaçao histórica. A vasta maioria dos moradores neste locais são tratados como sub-cidadãos brasileiros. Marielle Franco tinha consciência disto.

Nesta mesma época trabalhou com amigos da faculdade no museu da Maré no projeto para educar jovens da favela. O objetivo do trabalho era formar uma nova geração de ativistas chamados “intelectuais da favela”. para Marielle, a única maneira das comunidades serem ouvidas seria através do poder do voto. Em outras palavras, eleger alguém que realmente pudesse representar seus anseios.

Em 2016 conseguiu ser eleita para vereadora com quase 50 mil votos. ( A 5a mais votada na cidade). Trazia na manga além do seu intelecto, o charme, e a beleza da mulher negra. Todas estas qualidades juntaram-se com o mestrado e a pós-graduação em sociologia.

Marielle Franco estava a caminho de deixar uma marca altamente positiva na política do Rio de Janeiro. Com um futuro bastante promissor a nível nacional e internacional. Na sua pauta política estava a luta pelos residentes das favelas em geral, a luta contra o racismo, a luta pels mães solteiras, a luta pela comunidade LGBT, epor fim,um melhor relacionamento entre a polícia e os moradores das favelas.

Nos seus quase 2 anos como vereadora apresentou mais de 15 projetos de lei. Fazia parte da Comissão dos Direitos Humanos e da Defesa das Mulheres. “Brigou” por mais casas para partos na cidade. Era totalmente contra a intervenção federal no Rio de Janeiro. Constantemente denunciava a violência policial nas favelas carioca.

Marielle Franco foi uma vencedora num sociedade que jamais deu a devida importância aos talentos tanto do homem negro como da mulher negra.

Será difícil quantificar o que realmente significará para o Brasil sua morte. A barbárie no Rio de Janeiro conquistou mais uma triste vitória.