“Os santos negros, desnecessario dizer eram muito populares entre os escravos. Sao Benedito reinava na igreja do Rosario, enquanto Baltasar, que se acreditava ser o terceiro rei mago e rei do Congo, era o soberano na Lampadosa.
Em 1906, sao Benedito era chamado tambem de Lingongo pelos cabindas e ainda desempenha um papel fundamental nos centros de umbanda modernos, chefiando as legioes de pretos velhos. No seculo XIX, era um santo poderoso, venerado havia seculos no Rio; mas, em 1849, os brancos protestaram contra carregar um homem negro aos ombros em uma procissao religiosa e deixaram sua imagem na sacristia.
Em dezembro daquele ano, sao Benedito vingou-se deles e, na crenca popular, mandou a terrivel epidemia de febre amarela que matou especialmente a gente branca. No ano seguinte, sua estatua foi prontamente reposta na procissao, com um rico manto novo e uma plataforma repintada, decorada com palmas e rosas. A reacao popular a febre amarela revela que muitos acreditavam que ele tinha “forca”para mandar uma epidemia devastadora, mas outro de seus poderes era a protecao de seus devotos contra envenenamento. Esse controle duplo de doenca e veneno sugere que sua imagem talvez fosse invocada em rituais contra bruxaria ou feiticaria nos quais se usaria veneno para detectar bruxas e curar pessoas, ou resolver conflitos comunitarios. Portanto, o motivo de sua popularidade duradoura na cidade nao era apenas porque era um santo “negro” com quem os africanos podiam se identificar, mas tambem porque era tao “potente” que podia lutar contra bruxarias e feiticarias, isto e, doenca e morte.” A Vida dos escravos no Rio de Janeiro: 1808-1850 – Mary C. Karasch.